segunda-feira, 4 de março de 2013

"Anna Karenina" exagera na ousadia visual

O diretor Joe Wright quis, com sua versão de "Anna Karenina", capturar a teatralidade da Rússia imperial. Para isso, ele fez uso de um palco onipresente, que vai se adaptando às mudanças de cenário do roteiro.

Na primeira hora do filme, os personagens sobem e descem as escadas deste palco, como atores de teatro, numa coreografia quase interminável; todos os cenários vão aparecendo ali - o gabinete de um ministro, um restaurante sofisticado de São Petersburgo e até uma estação de trem.

A princípio o apelo visual da escolha do diretor é realmente atraente, o palco vai se transformando perfeitamente de um cenário para outro, os personagens praticamente desfilam entre uma cena e outra como se estivessem dançando.

O problema é que cinema não é teatro, e o artifício usado pelo diretor torna-se cansativo e, pior, desvia a atenção do público. A profusão de cenários que vão se interpondo no palco principal e a dança dos personagens deixam o público perdido em relação à ação que está acontecendo.


Por mais que a história de Anna Karenina seja um clássico da literatura universal amplamente conhecido, um filme precisa se sustentar pelo seu roteiro, e é nesse ponto que Joe Wright perdeu a mão ao dar valor exagerado à teatralidade de seu filme. Por vezes temos a sensação de estarmos assistindo a um musical sem música.

A partir da segunda metade do filme finalmente o público é poupado do super palco principal e vemos locações reais para as cenas, mas invariavelmente o palco retorna, e a experiência cinematográfica de "Anna Karenina" é frustrante.


A trama, do escritor russo Leon Tolstoi, segue o adultério de Anna Karenina, casada por conveniência com o ministro Alexis Karenin e apaixonada pelo conde Vronsky. A história é recheada de críticas à sociedade russa do período imperial, baseada nas aparências e títulos aristocráticos.

O grande destaque fica para a excelente atuação de Jude Law como o marido traído, que mesmo nessa situação não deixa de agir racionalmente. Keira Knightley não empolga no papel principal, mas não chega a comprometer; o que não pode ser dito de Aaron Taylor-Johnson como o amante.
O ator não consegue dar vida a seu personagem, e o público fica se perguntando o que Anna viu naquele homem sem expressão que a fez se apaixonar perdidamente.


Por mais que o apelo visual do diretor Joe Wright tenha prejudicado a narrativa, o filme consegue atrair pela riqueza da história de Tolstoi. E, justiça seja feita ao diretor, algumas cenas são memoráveis, como a primeira valsa entre Anna e Vronsky, momento em que eles estão se apaixonando e a tensão sexual é muito bem retratada na coreografia da música.

Wright é um cineasta de talento e já provou sua competência em "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação", por isso vamos considerar "Anna Karenina" como uma tentativa válida pela ousadia visual, mas que deixa a desejar em relação à qualidade da narrativa. A estreia nos cinemas brasileiros está marcada para 15 de março.

(Imagens: divulgação)

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