terça-feira, 5 de março de 2013

Pacino, Walken e Arkin com energia de sobra

A sinopse pode passar a impressão de uma história amplamente retratada no cinema, e pouco criativa. Depois de cumprir sozinho uma longa pena para livrar seus colegas de crime, um velho bandido sai da cadeia ainda disposto a continuar na vida fora da lei.

Seu melhor amigo, também da gangue, foi incumbido da mais ingrata missão de sua carreira: matá-lo.

De fato a história não é das mais inovadoras, mas o grande trunfo de "Stand Up Guys" é seu elenco. Al Pacino é Val, o bandido que cumpriu a pena sozinho. Christopher Walken é Doc, melhor amigo de Val e o responsável por matá-lo, a mando de um traficante da região. Para fechar o trio de velhos bandidos, Alan Arkin é Hirsch, que na juventude foi o motorista do grupo.

O tema dos bandidos aposentados já foi bem explorado pelo cinema, e todos os casos de sucesso passam pela competência do elenco. No caso de "Stand Up Guys", Pacino, Walken e Arkin entregam trabalhos precisos e extremamente afiados.
A experiência está clara em cada expressão e entonação dos três, que sabem dosar com exatidão as necessidades dramáticas de cada cena.

Christopher Walken é o bandido nostálgico, aposentado do crime, angustiado pela missão de matar seu amigo e atormentado pela distância da família - a filha se afastou e a neta não sabe quem ele é.

Al Pacino é o mais energético de todos, cumpriu sua pena com orgulho, está ávido por voltar à ação mas não consegue se adaptar ao novo mundo para o qual foi solto.


Alan Arkin está em luto pela morte de sua esposa, mas não perdeu suas habilidades na direção, muito menos a disposição para um último trabalho.

O roteiro pode não apresentar grandes novidades e a narrativa é bem tradicional, mas o filme vale pela força do seu trio de protagonistas. A direção de Fischer Stevens não compromete, e consegue captar as nuances de cada ator.

Fica aqui o registro para a boa participação da novata Addison Timlin como a garçonete do restaurante onde os bandidos se reúnem. (imagem abaixo)
Com pouco tempo de tela, ela conseguiu mostrar carisma e boa presença de cena.

"Stand Up Guys", por fim, é o filme que mostra que bons atores ainda salvam um filme comum e, por mais que a tecnologia esteja criando maravilhas e atraindo o público com efeitos especiais, no fim das contas o ator ainda é a alma do cinema.

O filme, que estreou nos EUA em fevereiro, só chega por aqui no dia 5 de abril.




(Imagens: divulgação e Yahoo Movies)

segunda-feira, 4 de março de 2013

"Anna Karenina" exagera na ousadia visual

O diretor Joe Wright quis, com sua versão de "Anna Karenina", capturar a teatralidade da Rússia imperial. Para isso, ele fez uso de um palco onipresente, que vai se adaptando às mudanças de cenário do roteiro.

Na primeira hora do filme, os personagens sobem e descem as escadas deste palco, como atores de teatro, numa coreografia quase interminável; todos os cenários vão aparecendo ali - o gabinete de um ministro, um restaurante sofisticado de São Petersburgo e até uma estação de trem.

A princípio o apelo visual da escolha do diretor é realmente atraente, o palco vai se transformando perfeitamente de um cenário para outro, os personagens praticamente desfilam entre uma cena e outra como se estivessem dançando.

O problema é que cinema não é teatro, e o artifício usado pelo diretor torna-se cansativo e, pior, desvia a atenção do público. A profusão de cenários que vão se interpondo no palco principal e a dança dos personagens deixam o público perdido em relação à ação que está acontecendo.


Por mais que a história de Anna Karenina seja um clássico da literatura universal amplamente conhecido, um filme precisa se sustentar pelo seu roteiro, e é nesse ponto que Joe Wright perdeu a mão ao dar valor exagerado à teatralidade de seu filme. Por vezes temos a sensação de estarmos assistindo a um musical sem música.

A partir da segunda metade do filme finalmente o público é poupado do super palco principal e vemos locações reais para as cenas, mas invariavelmente o palco retorna, e a experiência cinematográfica de "Anna Karenina" é frustrante.


A trama, do escritor russo Leon Tolstoi, segue o adultério de Anna Karenina, casada por conveniência com o ministro Alexis Karenin e apaixonada pelo conde Vronsky. A história é recheada de críticas à sociedade russa do período imperial, baseada nas aparências e títulos aristocráticos.

O grande destaque fica para a excelente atuação de Jude Law como o marido traído, que mesmo nessa situação não deixa de agir racionalmente. Keira Knightley não empolga no papel principal, mas não chega a comprometer; o que não pode ser dito de Aaron Taylor-Johnson como o amante.
O ator não consegue dar vida a seu personagem, e o público fica se perguntando o que Anna viu naquele homem sem expressão que a fez se apaixonar perdidamente.


Por mais que o apelo visual do diretor Joe Wright tenha prejudicado a narrativa, o filme consegue atrair pela riqueza da história de Tolstoi. E, justiça seja feita ao diretor, algumas cenas são memoráveis, como a primeira valsa entre Anna e Vronsky, momento em que eles estão se apaixonando e a tensão sexual é muito bem retratada na coreografia da música.

Wright é um cineasta de talento e já provou sua competência em "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação", por isso vamos considerar "Anna Karenina" como uma tentativa válida pela ousadia visual, mas que deixa a desejar em relação à qualidade da narrativa. A estreia nos cinemas brasileiros está marcada para 15 de março.

(Imagens: divulgação)

sexta-feira, 1 de março de 2013

Baixar ou não baixar ? Documentário reflete sobre a geração internet

Se você tem o mínimo de familiaridade com a internet, você sabe que há tempos uma prática é quase automática para milhões de usuários: baixar arquivos.
Ao longo dos últimos anos, o compartilhamento de arquivos pela internet gerou muita polêmica entre a indústria do entretenimento e os internautas. Essa indústria, aliás, não é qualquer indústria. Sob muitos aspectos, a mídia é a indústria mais poderosa do mundo.

E foi justamente contra a mídia que o site sueco The Pirate Bay arrumou uma baita de uma confusão; a premissa do site é simples, ele funciona como uma plataforma para que os usuários compartilhem arquivos. O problema, para os representantes de Hollywood, da indústria fonográfica e da mídia em geral, é que os usuários compartilham filmes, discos e outros arquivos protegidos por direitos autorais.
Está então desenhada a disputa acompanhada pelo documentário "TPB: AFK" (The Pirate Bay: Away From Keyboard).
O cineasta Simon Klose acompanha a rotina dos três fundadores do The Pirate Bay durante a época em que enfrentaram processos por violação de direitos autorais. Os jovens Gottfrid Svartholm, Peter Sunde e Fredrik Neij representam uma juventude nascida na era digital, familiarizada com a dinâmica do mundo virtual e alheia às exigências da indústria tradicional.

As cenas das audiências expõem os jovens respondendo com ironia e até humor aos questionamentos da justiça sueca, que não consegue convencê-los do suposto crime que cometeram.

Entre os jovens fundadores (e também os usuários) do Pirate Bay e a indústria da mídia existe um abismo geracional evidenciado pela disputa judicial que chamou atenção de todo o mundo.

De um lado a mídia pede ressarcimentos milionários pelas perdas em direitos autorais dos produtos compartilhados no site, do outro os jovens mostram que o modelo tradicional de venda não se aplica mais ao universo da internet.
É difícil não ficarmos com a impressão de que a indústria perdeu uma oportunidade de criar novas formas de relacionamento - e consequentemente lucros - com os jovens conectados.

O compartilhamento de arquivos poderia ter sido interpretado por outro lado, aquele em que as pessoas têm interesse sobre determinado produto e, se incentivadas de modo correto, poderiam ser convencidas a gastar dinheiro de alguma forma.

Ao invés disso, a indústria preferiu a colisão frontal com a geração representada pelos três nerds criadores do Pirate Bay, exigindo indenização e prisão.

O bom documentário de Simon Klose pode ajudar a entendermos melhor os valores de nossa geração e qual a direção que seguiremos daqui pra frente. Uma última informação, redundante mas válida: o documentário está disponível para download gratuito no Pirate Bay, site que continua no ar.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O Oscar que Joaquin deveria ganhar

Se você fosse apostar uma grana naquelas casas de apostas de Londres sobre qual ator ganhará hoje o Oscar de melhor ator, em quem você depositaria suas economias?

Muito provavelmente sua resposta foi Daniel Day-Lewis, e não é por menos. O cara é um dos grandes favoritos, e dificilmente perde a estatueta.

Não entremos aqui em discussões sobre a real importância de um Oscar atualmente, prêmio muito mais ligado à política e glamour do que excelência técnica.

Sendo assim, chegamos ao objetivo deste texto: honrar uma atuação que provavelmente será esquecida pela Academia e é simplesmente uma das melhores da história.

"O Mestre" é um típico filme de Paul Thomas Anderson - história interessante, roteiro inteligente, direção criativa e interpretações precisas. No longa, Freddie Quell (Joaquin Phoenix) é um veterano de guerra que volta para casa sem rumo, incerto sobre seu futuro e sem coragem de retomar contato com sua paixão pré-guerra.

Vagando pelos EUA, Freddie conhece o professor/filósofo/profeta/líder de culto Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), e se envolve com "A Causa", como é denominada a seita que Lancaster lidera.
Joaquin entrega uma interpretação acima de tudo física; ele exibe um conjunto de características visuais (passos tortos, corcunda, trejeitos) absolutamente embasbacante.

Além disso, constrói um personagem psicologicamente partido entre as lembranças da guerra e idealizações de uma vida que não consegue atingir.

O resultado é um homem perturbado, alcoólatra, violento e incapaz de viver em sociedade.
São muitas as razões que tornam esse filme excelente - desde as grandes interpretações de Seymour Hoffman e Amy Adams, passando pela sempre exótica direção de Paul Thomas Anderson e pelas situações insólitas do roteiro.

Mas nenhum desses itens é tão espetacular quanto a atuação de Joaquin Phoenix, um porto-riquenho radicado nos EUA, figura singular entre as celebridades hollywoodianas.
Alguns podem dizer que o simples fato dele ter sido indicado ao Oscar já é uma vitória, mas quem assistiu "O Mestre" sabe que a estatueta deveria ir para Phoenix.